Caminhando pelas ruas de qualquer grande cidade do país, ao passar por moradores de rua, muita gente ainda olha para o outro lado, finge que não vê e segue com sua vida. Muita gente ainda os faz invisíveis. Mas quem são aquelas pessoas? Por que estão naquela situação? Certamente, são inúmeros os motivos, cada um ali possui sua história. E muitos deles podem estar precisando simplesmente de um pequeno empurrão para transformarem suas vidas.
Num evento organizado em São Paulo pela Gi Group, um dos líderes globais em soluções voltadas a recrutamento e seleção, administração de temporários, terceirização e treinamento, um dos palestrantes convidados foi Danielle Aguiar, Gerente de Relacionamento da Rede Cidadã, e o assunto, a reintegração social de moradores de rua através do trabalho.
A ONG
A Rede Cidadã é uma organização não governamental sem fins lucrativos que busca a transformação social por meio da integração entre vida e trabalho. Ou seja, ao defender que o trabalho é condição básica para qualquer um obter autonomia, direitos e cidadania, um dos projetos da ONG foca em criar soluções de geração de emprego e renda para pessoas em estado de vulnerabilidade social, como os moradores de rua. Esse projeto, focado na cidade de São Paulo, é chamado de Trabalho Novo.
Acompanhamento emocional
Muito mais do que simplesmente investir na formação técnica de quem participa de seus cursos e palestras, eles buscam resgatar as vocações e os sonhos das pessoas, além de sua formação emocional. Sendo assim, o projeto oferece treinamento, emprego e acompanhamento emocional a pessoas em situação de rua. Danielle explicou que essas pessoas, quando acompanhadas emocionalmente, mostram uma taxa de aderência muito mais significativa. Para consolidar o sucesso das ações e restaurar o valor do trabalho para a vida dos candidatos, o projeto aplica técnicas estruturadas através de vivências e práticas como respiração circular, educação biocêntrica e dança circular.
Para fazer parte do projeto, os candidatos precisam passar a residir em algum abrigo do governo. Após participarem do curso, as pessoas são direcionadas para as vagas de emprego disponibilizadas pelas empresas parceiras do Projeto.
E os resultados obtidos pela Rede impressionam: o número de abandonos do emprego conquistado é muito pequeno. Além disso, a maioria dos participantes acaba deixando as ruas, pois decidem voltar a morar com as famílias que haviam deixado para trás – com a dignidade restaurada pelo emprego obtido, eles se sentem prontos para isso. Mais um passo crucial para a reintegração social.
Vocações
A ONG se propõe a encontrar aquilo que os moradores de rua saibam fazer, ou tenham vocação. Durante o processo, conversas e treinamentos demonstram como aquele candidato pode contribuir da melhor maneira para as empresas participantes. “Procuramos pessoas que possam representar uma empresa, e não apenas preencher uma vaga”, declarou Danielle.
As empresas que participam do projeto oferecendo vagas precisam ficar atentas à integração dos candidatos. Em alguns casos, é melhor divulgar internamente sua origem como morador de rua – ao menos aos colegas que trabalharão em contato direto –, em outros casos, não. Essa decisão deve ser tomada caso a caso, com foco total em integrar o candidato e fazê-lo se sentir parte da empresa. Com isso, ele poderá voltar a se sentir parte da sociedade.
Os números da ONG mostram que vidas podem, sim, ser mudadas com esforços reais de enxergar a pessoa por trás da condição. Não olhar para o outro lado, não fingir que não está vendo a pessoa. Tornar o invisível visível. “Muitas daquelas pessoas em situação de vulnerabilidade precisam apenas de uma oportunidade”, afirmou Danielle. “Gosto de dizer que nosso trabalho é humanizar seres humanos”.