Por incrível que pareça, a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, e na sociedade, ainda é um assunto repleto de tabus. Bastante coisa já mudou e continua mudando para melhor, mas ainda existe muitos desafios e falta de informação. As pessoas com deficiência (PcD) não podem ser vistas como incapazes. Empregar uma delas não é, ou não deveria ser, um favor.
Hoje existe inúmeras empresas promovendo capacitação, treinamento e recrutamento de PcDs. Muitas dessas pessoas, porém, já são capacitadas e, mesmo assim, diversas vagas não são preenchidas com facilidade. Um dos grandes culpados disso ainda é o preconceito, tanto nas empresas como na comunidade. Outro problema é a acessibilidade, algo bastante negligenciado nas maiores cidades brasileiras; é comum haver deficientes físicos que simplesmente não conseguem chegar ao local de trabalho devido à distância, precariedade do transporte público e barreiras urbanas. Algo complexo, mas que precisa mudar.
Lei de Cotas
A Lei 8213/91, de 24 de julho de 1991, também conhecida como Lei de Cotas, definiu que as empresas com mais de 100 funcionários seriam obrigadas a preencher de 2 a 5 por cento de seus cargos com pessoas portadoras de deficiências. Antes disso, PcDs só conseguiam entrar no mercado de trabalho através de ações do governo, ou eram terceirizadas por associações ou ONGs, ficando basicamente em órgãos federais ou estaduais. A lei foi um passo importante para a inclusão desses profissionais nas empresas privadas, mas a contratação é apenas o começo: o trabalho mais árduo começa em seguida.
Vencendo o preconceito
Uma vez dentro das empresas, a PcD precisa lidar com dois tipos de resistência: a dos clientes (se for um cargo que tenha contato direto com o público) e a dos outros funcionários. Assim, é imprescindível que o contratante realize ações para vencer o preconceito nessas duas frentes.
No caso dos funcionários, a organização de reuniões mensais, cursos e dinâmicas costumam melhorar muito a convivência. Leandro Pólito, Sourcing Manager e Embaixador de Diversidade do Google no Brasil, criou um “almoço às cegas” na empresa em que atua, onde os funcionários usam vendas por uma hora para entender os desafios do deficiente visual. Outra iniciativa da empresa foi criar o “dia da cadeira de rodas”, onde alguns profissionais usaram o equipamento por um dia inteiro.
Leandro Pólito, Google Brasil
Esses são bons exemplos de ações voltadas para conscientizar os funcionários. Em relação aos clientes, ações e projetos de apoio à inclusão fora da empresa podem ajudar a aumentar a percepção do assunto e mudar a comunidade.
Lutando pela inclusão real
Outra questão importante é a preparação da empresa para as PcDs; é essencial criar um ambiente que ofereça apoio, recursos e informação aos profissionais com deficiência, para que eles se sintam “empoderados” e possam ser cobrados como qualquer outro funcionário. Segundo Leandro, do Google, que é deficiente visual, a cobrança interna por resultados foi imprescindível para que ele se sentisse realmente incluído no mercado, e não apenas cumprindo uma cota prevista na lei.
A real inclusão no mercado de trabalho gera realização profissional e a sensação de fazer parte da sociedade, contribuindo, produzindo, criando. Gera felicidade, e isso não tem preço. É somente assim que se torna possível gerar líderes dentro das minorias, elevando a inclusão a um novo patamar. Sim, os desafios são gigantescos; mas a boa vontade e as iniciativas estão cada vez mais comuns, e isso é o que mais importa.